ventura

Desde pequena sabia que passava uma grande parte do dia como refém de devaneios. Constantemente se entregava aos caprichos da imaginação e por ali ficava. Algumas vezes chegava a ficar em dúvida do que podia realmente fazer no plano do que existia de fato. Rezava, pedidndo objetividade. Tal caracteristica da qual se sentia desprovida, parecia ser o centro do furacão que tirava seus pés do chão diariamente. A falta de direção se unia ao excesso de interesses que as coisas lhe despertavam, e era possível que a cada dia uma paixão nova aparecesse para ela. Na verdade, podemos dizer que era uma pessoa que se encantava com qualquer pequena descoberta cotidiana. Parecia ser tomada por pequenas epifanias,e o que as mais banais das criaturas achassem ordinário, para ela era estravagante, maravilhoso e memoravél.
Talvez isso lhe fizesse uma pessoa rara. Com certa doçura. Mas viver nesse mundo de lampejos brilhantes acerca da vida também tinha seus buracos negros. Do mesmo modo que era envolvida pela admiração e exaltação das vivências rotineiras sentindo-se muitas vezes enlevada, subitamente tudo mudava de lugar. Sua visão e pensamento perdiam a limpidez e o brilho, e ela passava a acreditar em coisas nocivas. Que transgressão era essa. Já estava indo além do que era permitido, então só podia dar nisso : ruína. A maior conquista seria não entrar nessa onda de pensamentos prejudiciais. Mas era muitas vezes como uma idéia impertinente, uma perseguição insistente da qual ela não conseguia fugir.
Gostava tanto do outro pólo! Ah, a luz, a vivacidade, o esplendor. Ostentava com prazer a magnificência. Os dias tinham cores inéditas, o por do sol excepcional, o verde cada vez mais verde, as rosas, os crisântemos, as borboletas com suas asas coloridas e brilhantes, os livros (estes eram os que lhe mostravam as direções a serem seguidas), as palavras sempre primorosas aos seus ouvidos ...A imensidão do mar azul,as florestas, o mistério que movia sua fé e fazia dela uma pessoa que acreditava no amor. Eram essas as coisas que importavam e que tinham que perdurar. Para isso sabia que não podia perder a coragem. A firmeza de espírito trazia grandes reconpensas. E assim ela ia entre incertezas e valentia, pensando que como Cecília Meirelles tinha aprendido com a primavera a se deixar cortar e voltar sempre inteira.

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